Mas dados revelam que o eleitorado mais aguerrido de Ricardo tem mais tendência de não comparecimento.
Dos 477,6 mileleitores de Ribeirão Preto aptos a votar nas eleições de 2024, 160 mil não compareceram às urnas no primeiro turno, uma taxa de abstenção de 33,51%. De cada três pessoas com o título eleitoral, uma não votou.
Farolete identificou a taxa de abstenção de cada um dos 132 colégios eleitorais da cidade. Não há diferença significativa no percentual de não-votantes entre os locais em que Ricardo e Marco Aurélio se sobressaem.
Porém, o eleitorado mais aguerrido de Ricardo é levemente mais propenso a não comparecer.
Conforme revelamos na última reportagem, Ricardo Silva (PSD) é mais forte na zona Norte e nos bairros periféricos, entre a população de baixa renda. Já Marco Aurélio (Novo) é o predileto na zona Sul, onde o poder aquisitivo é maior.
Em 71, Ricardo venceu com MAIS da metade dos votos válidos. Nesse grupo, a taxa de abstenção média foi de 33,9%.
Em 39, Ricardo venceu com MENOS da metade dos votos válidos. Neles, a taxa de abstenção foi de 32,8%
Marco Aurélio ganhou em 21 colégios, onde a taxa de abstenção média foi de 33,1%.
Roque (PT) venceu apenas em um colégio, na zona Oeste, onde a taxa de abstenção foi de 42%.
Considerando todos os 110 locais em que Ricardo foi o mais votado, a taxa de abstenção média foi de 33,6%. Bem próximo dos 33,1% onde Marco Aurélio se sobressaiu.
Farolete fez uma projeção: se em todos os 132 colégios eleitorais a taxa de abstenção fosse de exatos 33,51%, que é a média da cidade, pouca coisa mudaria.
Nesse caso hipotético, Ricardo Silva teria tido 48,52% dos votos válidos, contra 48,44% do que realmente teve no primeiro turno.
A projeção do Farolete considera o percentual de votação dos candidatos em cada colégio no primeiro turno, mas modificando o universo de votos válidos.
Não há como saber se o comportamento dos não votantes em cada colégio seria semelhante ao daqueles que foram votar.
Os dados apontam que apenas a abstenção não justifica, sozinha, o inesperado segundo turno. A pesquisa Quaest/EPTV divulgada em 5.outubro, dois dias antes das eleições, apontava Ricardo com 63% dos votos válidos.
Das 5.570 cidades brasileiras, apenas três não possuem um Plano Municipal de Educação (PME): Ribeirão Preto, Iaras e Vargem, todas paulistas. Sem o documento aprovado na forma de lei, algo obrigatório desde 2016, esses municípios são barrados para recursos milionários do Ministério da Educação (MEC).
O PME planeja as políticas públicas municipais para o ensino pelos próximos dez anos, estipulando gastos, indicadores, metas e ações. Ele é uma exigência do Plano Nacional de Educação, que vigora no país desde 2014.
Ribeirão Preto foi vanguarda ao iniciar suas discussões em 2007, mas as gestões Dárcy Vera (2009-2016) e Duarte Nogueira (2017-atual) foram incapazes de chegar a um consenso entre Executivo, Legislativo e sociedade. Assim, um PNE nunca chegou a ser transformado em lei, algo que outras 5.567 prefeituras tiveram êxito.
“Além de ser dever legal desde 2016, o PME é fundamental para dar um norte que vá além da visão imediatista do secretário ou prefeito de plantão. Sem planejamento de longo prazo, não há qualidade de gestão”, resume José Marcelino de Rezende Pinto, professor da USP-RP e ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (leia entrevista no final da reportagem).
Por não ter PME, Ribeirão Preto está proibido de pleitear recursos do PAR (Plano de Ações Articuladas), um programa do MEC para financiar, com verbas suplementares, ações de melhoria na educação. A informação foi confirmada ao Farolete pelo Governo Federal, por meio da Lei de Acesso à Informação.
No ano passado, o MEC repassou R$ 760 milhões para municípios brasileiros que cadastraram projetos no âmbito do PAR, sendo 60 do estado de São Paulo. A capital paulista recebeu R$ 3,5 milhões.
A minúscula Ubirajara, com menos de 5 mil habitantes, ficou com R$ 642 mil.
Os dados foram analisados pelo Farolete na plataforma de execução orçamentária do MEC. O Governo Federal informou, em resposta à Lei de Acesso, não ser possível estipular quanto Ribeirão Preto já deixou de receber, pois as verbas são definidas de acordo com os projetos cadastrados.
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