Turismo musical cria raízes na terra do agronegócio
Secretaria de Cultura e Turismo estima que 10 mil pessoas venham de fora para cada grande show em Ribeirão Preto
A assessora jurídica Marina Monteiro, de Maringá, enfrentou em 2022 pela terceira vez uma longa viagem de ônibus para assistir ao João Rock. São doze horas desde o norte do Paraná para rever o festival e reencontrar amigos em Ribeirão Preto, onde já morou por um ano.
Pelo tempo de trajeto, ela não consegue prolongar a estadia e precisa retornar pouco depois do evento, fazendo o conhecido bate-volta. Apesar das dificuldades e perrengues, ela não pensa em abandonar a tradição. “Vale a pena por conta da energia do festival e da qualidade dos artistas”, garante.
Assim como Marina, milhares de fãs visitam Ribeirão Preto para participar de festivais ou dos recentes shows internacionais.
O diretor da Secretaria de Cultura e Turismo de Ribeirão Preto, José Venâncio Júnior, diz não haver dados exatos sobre o número de turistas envolvidos nos grandes eventos musicais, mas projeta que cada um deles atraia cerca de 10 mil visitantes.
No caso de Natália Junqueira, o aumento do turismo nas datas próximas aos shows pode ser facilmente percebido. A publicitária auxilia os pais com as reservas que chegam em um serviço online de aluguel.
Por meio de um aplicativo, eles complementam a renda disponibilizando quatro quartos para hospedagem em um imóvel próximo à Arena Eurobike – onde são realizados muitos dos shows internacionais em Ribeirão.
Em razão do aumento na procura nos dias dos eventos, ela recorre à tarifa dinâmica do aplicativo, como também faz nos períodos da Agrishow e do João Rock.
Segundo ela, embora a maioria dos hóspedes venha do estado de São Paulo, não é incomum se deparar com pessoas de regiões mais distantes. A publicitária cita já ter recebido até mesmo um grupo de pessoas vindas de diferentes estados do Nordeste.
“Eles se conheceram num desses fóruns de fãs da banda para conseguir alugar um lugar mais barato. Se encontraram em São Paulo, fizeram como se fosse uma excursão, e vieram juntos para o show em Ribeirão. Um deles ficou responsável e fez a reserva com a gente”.
De acordo com Sabrina Alchaar, dona de uma empresa de excursões focada em eventos, praticamente todas as viagens eram feitas por ela anteriormente com destino a São Paulo ou outras capitais.
Agora, com o aumento de grandes shows de rock em Ribeirão Preto, está se tornando frequente a organização de viagens para a cidade, o que antes só acontecia no festival João Rock.
João Rock reuniu 70 mil pessoas em Ribeirão Preto na edição de 2022. Foto: Divulgação.
Apenas considerando as excursões organizadas pela empresária, com ponto de partida na região de Catanduva e São José do Rio Preto, são cerca de 120 a 150 pessoas que chegam ao município para acompanhar os eventos.
“Economia criativa”
O bauruense José Batista Júnior foi outro fã que pegou a estrada. O empresário da área fitness veio de carro com um amigo pouco antes do show do Iron Maiden, realizado numa terça à noite, mas aproveitou para almoçar na quarta em um tradicional restaurante da cidade.
Lá, ele se viu cercado por mesas inteiras compostas por fãs, provavelmente também turistas, vestindo as camisetas pretas com o logo da banda inglesa.
O analista de risco David Drezza, por sua vez, veio de Vinhedo para Ribeirão Preto por conta do João Rock e diz também ter aproveitado para ficar um tempo a mais, usando a oportunidade para, entre outras coisas, conhecer uma cervejaria da cidade.
Os exemplos de Júnior e Drezza representam um modo cada vez mais comum de aproveitar a estadia na cidade e se encaixam na análise feita pelo Diretor de Turismo de Ribeirão Preto, José Venâncio Júnior.
“Ribeirão Preto é uma referência nacional na parte gastronômica de bares e restaurantes, e na área cultural acaba se beneficiando com esse processo, porque aquela pessoa que vem pra ribeirão às vezes fazer um negócio durante o dia acaba ficando de um dia para o outro. Porque ela vai à noite conhecer uma cervejaria artesanal, um bar ou um restaurante diferenciado ou até mesmo assistir a uma peça de teatro”, explica Júnior.
Na opinião do diretor, a situação amplia a chamada “economia criativa”, na qual a cultura, além de ser viável, ajuda a trazer recursos para a cidade.
Segundo o diretor, esta situação é fruto de Ribeirão Preto ser uma cidade que, durante o dia, oferece diferentes oportunidades de negócio, e que, à noite, também traz opções atrativas para o público.
A pessoa acaba tendo a possibilidade de conhecer algo novo ou diferente, como um bar ou restaurante com uma cerveja artesanal ou uma peça no Theatro Pedro II. Então tem várias opções que ela pode usufruir e ter uma noite agradável, um final de semana, na área de cultura e lazer”.
José Venâncio JúniorRicardo Souza, integrante de um grupo cover de Guns N’ Roses chamado Shot N Guns, opina que a vinda de shows para a cidade gera economia para os fãs da região, e isso também incrementa os ganhos do comércio local.
“O cara que já é daqui e não precisa gastar tanto acaba consumindo mais coisas. Ele compra material da banda. Vai no show e compra a camiseta. Ou quem vem de fora reserva um hotel, aluga um carro. Então, fomenta muito o comércio em Ribeirão”.
De acordo com José Venâncio Júnior, um estudo mais completo está sendo realizado com o intuito de levantar os números relativos a grandes shows e demais eventos sociais que movimentam a economia da cidade.
A expectativa, segundo ele, é de que a pesquisa apresente resultados muito positivos neste primeiro ano pós-pandêmico. A previsão é de que os dados estejam disponíveis até o final de dezembro de 2022.
Das 5.570 cidades brasileiras, apenas três não possuem um Plano Municipal de Educação (PME): Ribeirão Preto, Iaras e Vargem, todas paulistas. Sem o documento aprovado na forma de lei, algo obrigatório desde 2016, esses municípios são barrados para recursos milionários do Ministério da Educação (MEC).
O PME planeja as políticas públicas municipais para o ensino pelos próximos dez anos, estipulando gastos, indicadores, metas e ações. Ele é uma exigência do Plano Nacional de Educação, que vigora no país desde 2014.
Ribeirão Preto foi vanguarda ao iniciar suas discussões em 2007, mas as gestões Dárcy Vera (2009-2016) e Duarte Nogueira (2017-atual) foram incapazes de chegar a um consenso entre Executivo, Legislativo e sociedade. Assim, um PNE nunca chegou a ser transformado em lei, algo que outras 5.567 prefeituras tiveram êxito.
“Além de ser dever legal desde 2016, o PME é fundamental para dar um norte que vá além da visão imediatista do secretário ou prefeito de plantão. Sem planejamento de longo prazo, não há qualidade de gestão”, resume José Marcelino de Rezende Pinto, professor da USP-RP e ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (leia entrevista no final da reportagem).
Barrado
Por não ter PME, Ribeirão Preto está proibido de pleitear recursos do PAR (Plano de Ações Articuladas), um programa do MEC para financiar, com verbas suplementares, ações de melhoria na educação. A informação foi confirmada ao Farolete pelo Governo Federal, por meio da Lei de Acesso à Informação.
No ano passado, o MEC repassou R$ 760 milhões para municípios brasileiros que cadastraram projetos no âmbito do PAR, sendo 60 do estado de São Paulo. A capital paulista recebeu R$ 3,5 milhões.
A minúscula Ubirajara, com menos de 5 mil habitantes, ficou com R$ 642 mil.
Os dados foram analisados pelo Farolete na plataforma de execução orçamentária do MEC. O Governo Federal informou, em resposta à Lei de Acesso, não ser possível estipular quanto Ribeirão Preto já deixou de receber, pois as verbas são definidas de acordo com os projetos cadastrados.
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