Reportagem: Cristiano Pavini
Juntas, as 26 cidades de Ribeirão Preto e região que compõem o DRS XIII (Departamento Regional de Saúde) possuem 672 respiradores. Três em cada quatro equipamentos estão em estabelecimentos que atendem o SUS (Sistema Único de Saúde).
Esses municípios somam aproximadamente 1,5 milhão de habitantes, dos quais 229,1 mil têm mais de 60 anos (grupo de risco da Covid-19), segundo projeção da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).
O levantamento foi feito pelo Farolete junto aos dados oficiais do Ministério de Saúde, no sistema DataSUS, relativos a fevereiro de 2020.
Dezoito cidades possuem menos que cinco equipamentos. Quatro delas não têm nenhum e cinco apenas um.
Os respiradores se tornaram essenciais na pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19. “Em média, 5% dos infectados evoluem para quadro clínico crítico”, explica o infectologista Benedito Lopes da Fonseca, docente na Faculdade de Medicina da USP-RP (leia mais abaixo), citando pesquisas realizadas na China.
O percentual varia entre os países e as faixas etárias. Com o pulmão comprometido pelo vírus, os pacientes precisam de ventilação mecânica para sobreviver.
Benedito afirma não ser possível saber, nesse momento, se o número de respiradores na região será suficiente para os efeitos do novo coronavírus. “Tudo vai depender do número de infectados. Por isso, não temos como precisar a demanda”.
O Hospital das Clínicas, polo de atendimento, já alerta. “Precisaremos de mais ventiladores (respiradores) para superar a crise de Covid-19, e esta necessidade será enviada à Secretaria Estadual de Saúde e ao Ministério da Saúde”, afirmou a assessoria do HC ao Farolete.
A ausência de respiradores é um dos maiores dramas da Itália. Com muitos infectados simultaneamente, o sistema de saúde entrou em colapso. Por isso, autoridades sanitárias defendem o isolamento social.
“Não acredito que o isolamento vertical (com quarentena para apenas um grupo de pessoas, como idosos ou com saúde precária) funcione. O que parou a epidemia na China foi o isolamento total. Do ponto de saúde pública, a recomendação é ficar em casa. Economia, de uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde, se recupera. Já a vida não”, explica Benedito Lopes da Fonseca.
Entre os respiradores ativos, 491 (73%) estão em estabelecimentos do SUS.
Para ampliar a disponibilidade, o empecilho não é dinheiro. Os fornecedores e fabricantes no país não têm estrutura para atender a demanda nacional, que explodiu em razão da pandemia. Ou seja: mesmo com recursos, o poder público não consegue adquirir respiradores.
Veja, abaixo, os equipamentos existentes em cada cidade. Foram considerados apenas os equipamentos em funcionamento cadastrados no DataSUS, excluindo os quebrados ou não instalados.
Não significa que todos esses respiradores estão disponíveis. Ou, então, que podem ser utilizados para pacientes de Covid-19.
Quem mais concentra equipamentos é o Hospital das Clínicas: 236 cadastrados no DataSUS. A assessoria de imprensa, porém, informou que o “HC possui 184 respiradores para atender os 920 leitos do Campus e UE, para pacientes adultos e crianças”.
A diferença, segundo Farolete apurou, está na classificação dos respiradores. Para tratamento da Covid-19, não são indicados equipamentos menos invasivos (como máscaras), como os modelos Bipap ou Cpap. São utilizados apenas os de ventilação mecânica com intubação.
Pelo DataSUS não é possível saber quantos, dos 672 equipamentos na região de Ribeirão, são de intubação.
Além disso, o Hospital das Clínicas faz um alerta: todos os respiradores de suas unidades têm “alta taxa de utilização”. Afinal, não são dedicados apenas à Covid-19, mas a pacientes de todas as enfermidades.
Questionada diariamente, por email e telefone, entre sexta-feira (20) e quinta-feira (26), a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde optou por não enviar resposta à reportagem, não se manifestando sobre quais medidas está adotando para enfrentar a Covid-19 na região de Ribeirão Preto (atualização: às 11h do dia 1 de abril o governo estadual enviou e-mail com posicionamento, incluído ao final da reportagem).
Conheça, abaixo, a relação dos equipamentos em Ribeirão Preto. Os dados são oficiais, cadastrados no DataSUS, atualizados até fevereiro de 2020.
Sobre a ausência de respiradores em algumas cidades da região de Ribeirão Preto, o professor Benedito Lopes da Fonseca afirma que o sistema de saúde irá direcionar esses pacientes para outras cidades, em especial o HC de Ribeirão Preto, polo regional para a Covid-19.
“Não adianta colocar um respirador nessas cidades se elas não têm estrutura. Eles precisam ser transferidos para um lugar com terapia intensiva e profissionais treinados. Não é apenas colocar o paciente na respiração mecânica, há uma série de especificidades do tratamento, volume de entrada de ar, entre outros”, explica Benedito.
Ele afirma que a evolução dos sintomas da Covid-19 é gradual no paciente, então haverá tempo para o DRS XIII encaminhá-lo para um hospital em outra cidade.
Sobre a melhor forma de se combater a pandemia, o especialista é claro: isolamento.
“As medidas que estão sendo tomadas são importantes, pois reduzem o contato entre as pessoas e reduzem as infecções. O prazo de quarentena está sujeito à avaliação diária: estamos verificando a incidência de novos casos [de infectados] pelos próximos 15 dias. Se for preciso, aumenta o tempo de isolamento. Esse será o procedimento até que a curva de contágios comece a cair, então podemos começar a pensar em retirar a quarentena”, explica.
Benedito aponta que a Covid-19 faz com que o pulmão fique encharcado com secreções. Com isso, o ar não consegue chegar nos alvéolos pulmonares. “Então temos que aumentar a quantidade de oxigênio no sangue pela via mecânica”, diz.
A intubação é mais indicada do que a máscara justamente para não haver perda de oxigênio, além de reduzir o contágio do infectado para profissionais de saúde ou outros pacientes.
Em nota encaminhada por e-mail, a Secretaria de Estado da Sáude informou que o “SUS em SP possui 57 mil leitos gerais e 3,5 mil de UTI” e que prevê “em um primeiro momento, a ampliação de 1,4 mil leitos de UTI para os atendimentos a casos de COVID-19”.
A pasta afirma que “preparou um esquema especial de gestão de leitos hospitalares, para dar prioridade à internação de pacientes com quadros respiratórios agudos e graves” e que “ninguém ficará sem assistência”.
Não foi informado quantos leitos ou equipamentos seriam destinados, especificamente, para a região de Ribeirão Preto.
Foto do destaque: Guglielmo Mangiapane/Reuters
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Das 5.570 cidades brasileiras, apenas três não possuem um Plano Municipal de Educação (PME): Ribeirão Preto, Iaras e Vargem, todas paulistas. Sem o documento aprovado na forma de lei, algo obrigatório desde 2016, esses municípios são barrados para recursos milionários do Ministério da Educação (MEC).
O PME planeja as políticas públicas municipais para o ensino pelos próximos dez anos, estipulando gastos, indicadores, metas e ações. Ele é uma exigência do Plano Nacional de Educação, que vigora no país desde 2014.
Ribeirão Preto foi vanguarda ao iniciar suas discussões em 2007, mas as gestões Dárcy Vera (2009-2016) e Duarte Nogueira (2017-atual) foram incapazes de chegar a um consenso entre Executivo, Legislativo e sociedade. Assim, um PNE nunca chegou a ser transformado em lei, algo que outras 5.567 prefeituras tiveram êxito.
“Além de ser dever legal desde 2016, o PME é fundamental para dar um norte que vá além da visão imediatista do secretário ou prefeito de plantão. Sem planejamento de longo prazo, não há qualidade de gestão”, resume José Marcelino de Rezende Pinto, professor da USP-RP e ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (leia entrevista no final da reportagem).
Por não ter PME, Ribeirão Preto está proibido de pleitear recursos do PAR (Plano de Ações Articuladas), um programa do MEC para financiar, com verbas suplementares, ações de melhoria na educação. A informação foi confirmada ao Farolete pelo Governo Federal, por meio da Lei de Acesso à Informação.
No ano passado, o MEC repassou R$ 760 milhões para municípios brasileiros que cadastraram projetos no âmbito do PAR, sendo 60 do estado de São Paulo. A capital paulista recebeu R$ 3,5 milhões.
A minúscula Ubirajara, com menos de 5 mil habitantes, ficou com R$ 642 mil.
Os dados foram analisados pelo Farolete na plataforma de execução orçamentária do MEC. O Governo Federal informou, em resposta à Lei de Acesso, não ser possível estipular quanto Ribeirão Preto já deixou de receber, pois as verbas são definidas de acordo com os projetos cadastrados.
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