Política
Publicado em: 08/10/2020

Ibope: homens e mulheres divergem sobre Bolsonaro em Ribeirão Preto

Reportagem: Cristiano Pavini

Em Ribeirão Preto, a avaliação de Jair Bolsonaro varia drasticamente de acordo com o gênero do entrevistado. Metade dos homens considera a sua gestão boa ou ótima. Já quatro em cada dez mulheres apontam que é ruim ou péssima.

Os resultados são da pesquisa Ibope/EPTV, realizada entre os dias 3 e 4 de outubro, que ouviu 504 eleitores na cidade e foi registrada na Justiça Eleitoral sob o número SP-00086/2020. A margem de erro é de quatro pontos percentuais.

O levantamento foi feito principalmente para aferir a intenção de voto nos candidatos a prefeito no município. Farolete analisou a íntegra dos resultados divulgados pelo Ibope, que também perguntou, entre outros, sobre Bolsonaro.

A percepção positiva em relação ao presidente lidera entre os ribeirão-pretanos:


Essa percepção, porém, é diferente de acordo com o recorte de gênero, idade e renda.


Gênero

Na avaliação “regular”, homens e mulheres empatam: 25% dos entrevistados de cada gênero têm essa percepção em Ribeirão Preto. Depois, porém, ficam opostos nas avaliações positivas e negativas.


A situação não é nova ou singular do município: desde a campanha eleitoral de 2018 Bolsonaro sofre maior rejeição das mulheres, o que se mantém dois anos depois.

Na pesquisa Ibope/CNI, realizada entre 17 de 20 de setembro deste ano, 33% das entrevistadas consideraram a gestão Bolsonaro ruim ou péssima (entre os homens o patamar foi de 25%). Na outra ponta, 36% das mulheres disseram que o governo é bom ou ótimo, contra 44% dos entrevistados.

Farolete ouviu Guilherme Russo, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (FGV Cepesp), e Beatriz Rodrigues Sanchez, pesquisadora do Núcleo Democracia e Ação Coletiva do CEBRAP.

Ambos apontam que o histórico de declarações e atitudes machistas de Bolsonaro resultaram em maior rejeição por parte das mulheres.

Guilherme ressalta que principalmente as jovens, identificadas com pautas feministas, são mais avessas ao presidente. Beatriz reforça que retrocessos do governo atual impactam, principalmente e diretamente, as mulheres, como na atuação da ministra Damares Alves para impedir o aborto de uma criança de 10 anos estuprada.

Leia, a seguir, a íntegra da análise dos dois, que também relembram o movimento #EleNão durante a campanha.


Idade

Bolsonaro é rejeitado, principalmente, pelos mais jovens em Ribeirão Preto, com idade entre 16 e 24 anos. Já a menor taxa de ruim/péssimo está entre a população com mais de 55 anos.


Renda

Os extremos estão entre os mais ricos: o grupo que recebe acima de cinco salários mínimos tem as maiores taxas de aprovação e de desaprovação do presidente, e a menor proporção de quem o considera regular.


Análise

Farolete perguntou o motivo de Bolsonaro ser mais rejeitado entre as mulheres do que os homens. Veja as respostas de dois pesquisadores:


Guilherme Russo

“Mesmo na eleição de 2018, a diferença no apoio ao então candidato Jair Bolsonaro entre homens e mulheres já era grande. O histórico de declarações machistas e o fato de ter ficado conhecido por essas declarações faz com que o presidente tenha uma maior rejeição delas. Da mesma forma, Bolsonaro é um político mais tradicionalista, o que é melhor visto pelos homens, dado que fazem parte do grupo que tem mais poder social historicamente falando.

Dito isso, nem todos homens e mulheres são iguais. Uma das grandes mudanças tem sido o crescimento de um sentimento feminista entre os jovens, especialmente mulheres. Isto porque o grupo que menor apoia o presidente são as mulheres jovens.

Os homens jovens apoiam menos que os homens de maior idade, mas a diferença é maior ainda com as mulheres jovens. Essas são justamente o grupo que organizou e liderou o movimento do #EleNão. 

Por último, vale lembrar que há outras diferenças na sociedade. De forma geral, os evangélicos apoiam mais o presidente, assim como os paulistas do interior. Sendo assim, a aprovação do presidente é mais alta entre homens, mais velhos, evangélicos do interior. Já o grupo que tem uma imagem mais negativa do presidente é o das mulheres jovens, sem religiosidade da cidade de São Paulo”

Guilherme é pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (FGV Cepesp).


Beatriz Sanchez

“A maior reprovação de Jair Bolsonaro entre as mulheres pode ter relação com o fato de que elas foram as principais prejudicadas pelas políticas adotadas por seu governo até o momento, além de terem sido as principais opositoras à sua candidatura durante as eleições. Não é à toa que as mobilizações em torno do ‘Ele Não!’ foram protagonizadas por mulheres.

A instituição de uma visão retrógrada sobre o que é a família e o que são os direitos das mulheres estão entre os principais alicerces de seu governo. Essas concepções não são meramente ideológicas, elas têm impacto concreto na vida das pessoas, especialmente das mulheres.

O caso ocorrido com a menina de 10 anos, que foi estuprada pelo tio e teve o acesso ao direito de interromper a gravidez (garantido constitucionalmente) dificultado, inclusive com a atuação da ministra Damares Alves, revela o quanto esses posicionamentos conservadores podem reverberar no cotidiano das mulheres.

O presidente, apesar de afirmar o contrário, não respeita as mulheres. Quando ainda era deputado, falou para uma deputada que ela “não merecia ser estuprada porque era muito feia”, o que caracteriza um caso evidente de violência política de gênero. Essa afirmação ofendeu não somente a parlamentar envolvida, mas todas as mulheres brasileiras”.

Beatriz é pesquisadora do Núcleo Democracia e Ação Coletiva do CEBRAP e doutoranda em Ciência Política pela USP.


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Das 5.570 cidades brasileiras, apenas três não possuem um Plano Municipal de Educação (PME): Ribeirão Preto, Iaras e Vargem, todas paulistas. Sem o documento aprovado na forma de lei, algo obrigatório desde 2016, esses municípios são barrados para recursos milionários do Ministério da Educação (MEC).

O PME planeja as políticas públicas municipais para o ensino pelos próximos dez anos, estipulando gastos, indicadores, metas e ações. Ele é uma exigência do Plano Nacional de Educação, que vigora no país desde 2014.

Ribeirão Preto foi vanguarda ao iniciar suas discussões em 2007, mas as gestões Dárcy Vera (2009-2016) e Duarte Nogueira (2017-atual) foram incapazes de chegar a um consenso entre Executivo, Legislativo e sociedade. Assim, um PNE nunca chegou a ser transformado em lei, algo que outras 5.567 prefeituras tiveram êxito.

“Além de ser dever legal desde 2016, o PME é fundamental para dar um norte que vá além da visão imediatista do secretário ou prefeito de plantão. Sem planejamento de longo prazo, não há qualidade de gestão”, resume José Marcelino de Rezende Pinto, professor da USP-RP e ex-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (leia entrevista no final da reportagem).

Barrado

Por não ter PME, Ribeirão Preto está proibido de pleitear recursos do PAR (Plano de Ações Articuladas), um programa do MEC para financiar, com verbas suplementares, ações de melhoria na educação. A informação foi confirmada ao Farolete pelo Governo Federal, por meio da Lei de Acesso à Informação.

No ano passado, o MEC repassou R$ 760 milhões para municípios brasileiros que cadastraram projetos no âmbito do PAR, sendo 60 do estado de São Paulo. A capital paulista recebeu R$ 3,5 milhões.

A minúscula Ubirajara, com menos de 5 mil habitantes, ficou com R$ 642 mil.

Os dados foram analisados pelo Farolete na plataforma de execução orçamentária do MEC. O Governo Federal informou, em resposta à Lei de Acesso, não ser possível estipular quanto Ribeirão Preto já deixou de receber, pois as verbas são definidas de acordo com os projetos cadastrados.

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